AS COISAS DA LUZ pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO
Sobre as coisas que parecem que não vão acontecer e, afinal, deixaram uma boa memória nas fotografias do fotógrafo de casamento ou quando combinamos algo que o universo, nas suas infinitas variantes, parece que não está interessado em nos facilitar as coisas.
Assim parecia nessa tarde onde tinha combinado com a Isabel e Rui, num fim de tarde para aproveitar as luzes que batem no jardim do Casino do Estoril e da praia do mesmo nome.
Gosto muito dessa hora porque o sol, companheiro de muitas horas de trabalho e aventuras, me segredou, um dia, que lá para o fim da tarde vou dar-te de mim aquilo que tu gostas para ti porque se noutras horas andas muitas vezes a arengar contra mim, que tenho força de mais, porque estou no lado errado, porque estou demasiado por cima e sabe-se lá mais o quê.
Mas como isso faz parte do meu trabalho, e não posso fazer nada contra o patrão, decidi fazer-te a vontade e se cá vieres quando eu já me preparo para uma boa e longa noite de sono, que bem preciso, aproveita que não me importo.
O problema é que ele, o meu amigo, não sabe esperar por ninguém e o trânsito, o tal, não facilitou a vida ao noivo que não havia meio de chegar. Quando os raiozinhos de luz dele, do meu amigo, já se esvaneciam por cima de Cascais e estava perfeito para última leva de fotografias da tarde, finalmente o Rui aparece, não pude fazer nada, ele, o trânsito, será que ainda dará para alguma coisa, veja lá, senhor fotógrafo, às vezes chamam-me assim, pelo menos já cá estou.
É nesta altura que o fotógrafo de casamento sabe que não será ele, a noiva e o noivo que irão resolver o assunto. Muito bem, agora vamos ter que ser uma equipa. Temos ser rápidos, concisos e o tempo é coisa que não temos. Felizmente uns senhores engenheiros japoneses fizeram maravilhas e já posso fotografar com muito pouca luz. Vamos a isso.
E foi. Pequenas indicações, como se tem que fazer nas sessões para retratos. Mas, verdade seja dita, é precisamente esta a hora e a luz que o meu amigo deixou para trás, porque ele já se anichou nos lençóis há um bom bocado, que o fotógrafo de casamento se lambuza como aquelas crianças a quem se entregou um cone de gelado, de preferencia de chocolate, e faz tudo para não perder uma pitada porque, também, sabe que tudo o que é prazenteiro tem pouca dura.
A equipa do lado de lá das lentes foi perfeita no tempo, na pose e na disposição, como se pode ver nas de baixo que ilustram, a delas, das lentes e câmaras a darem instruções sem falhas ao fotógrafo de casamento e a tarde já noite a entregarem à sessão aquilo que eu tinha sonhado que fosse.
Bendito transito, o tal.
