ELAS, AS CORES E A FALTA DELAS pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO
Sobre as cores, na cor, e o preto e branco, sem cores, nas fotografias de um fim de cerimónia de casamento na Basílica de Mafra
Tudo começou assim: a preto e branco.
Não vou escrever nem uma palavra da história da fotografia mas tudo começou assim: a preto e branco e o mundo ficou maravilhado.
Numa chapa de vidro aparecia, em tons de cinza, o retrato pela primeira vez. Retirando a cor, na reprodução, parecia que o mundo e as pessoas ganhavam uma magia até então só conseguida pelos desenhos a carvão dos pintores ou pelas águas fortes dos gravadores. Mas agora, através de uma óptica de vidro e uma caixa preta, era possível copiar a natureza com uma força e fascínio até então inexistente.
A partir daqui tudo mudou. Mudou a pintura que já não precisava de reproduzir a natureza e as pessoas como eram. Mudaram as pessoas que simplesmente adoravam esta nova forma de se verem sem ser só ao espelho. Mas era tudo a preto e branco, ou melhor, não era: era tudo em gradações de tons de cinzento do branco até ao preto. A isto chamaram de fotografia. De foto, do grego foton, luz e grafia. Escrita com luz. Que nome maravilhoso.
Quem tem luz tem sombra e faz fotografias
O que é espantoso, e isso é que me interessa, é que tanto tempo depois a fotografia a preto e branco ainda seja assunto de tanto espanto e admiração. Parece, que reduzindo a representação à sua mais simples grafia nos fica o lado da emoção visual e isso faça com ainda hoje esta forma de fotografia não tenha perdido nem um pouco do seu esplendor.
Para mim, como fotógrafo e fazendo parte deste grupo dos fotógrafos de casamento, ainda não consigo controlar a emoção que sinto quando em frente a uma foto a preto e branco vejo moldar sobre os volumes, as caras, os cabelos e o vazio a mágica luz que tudo pode e tudo ilumina. Quem tem luz tem sombra, e quando as duas se mimoseiam a dar a conta certa o resultado é sempre esplendoroso.
É por isso que não consigo que a maior parte do meu trabalho não seja finalizado a preto e branco. É aí que vejo se o consigo fazer ou não. Se não tiver, nessa simplicidade difícil, atingido a prisão do olhar de alguém por mais que um momento então o meu trabalho como fotógrafo não valerá muito.
A cor é rebelde que não se deixar domar para as fotografias
A cor é mais pantomineira, distrai mais e estas, as cores, lutam entre si para se tornarem, cada uma, o personagem principal da história contada nessa imagem a que chamamos fotografia. A cor é como rebelde que teima em não se deixar domar e sempre que pode lá retira ao todo, a que pertence, o protagonismo como diva mimada.
O preto e branco é partidário do conjunto, amigo da luz por respeito e da forma por amor. Quantas vezes me deparo com uma foto a que, por mais bela que seja, lhe falta algo que lhe dê unidade e faça dela um todo. Vejo bem e não é a composição. Vejo outra vez e não é história que conta. Vejo, ainda, outra vez e lá está a cor, uma cor, que à força tudo quer para si. Então, a seguir, transfiguro-a para a escala de cinzas e lá está o todo, belo, deslumbrante e capaz de se impor aos olhos de que quer que seja para seu deleite.
É por isso que, enquanto fotógrafo e fazendo parte dos fotógrafos de casamento, a maior parte do resultado das fotografias que faço o são a preto e branco, ou melhor, na escala de cinzentos.
Texto e foto: Fernando Colaço