A INCOGNITA pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO
Como fotógrafo de casamento tenho as minhas tarefas do dia mais ou menos estabelecidas. O dia começa cedo na casa de um dos membros do casal, que o será um pouco mais tarde numa cerimónia para a qual tudo converge.
O que o noivo e a noiva fazem desde de manhã cedinho com o seu embelezamento, como se eles fossem flores e quem lhes trata dos cabelos, da pele e do vestir a primavera a obrigar a desabrochá-las, às flores, para que saiam radiosas e poderosas na sua caminhada para um futuro a dois que começa com o tal sim, eu aceito, numa cerimónia ali mais para a frente.
Como já ando nisto há algum tempo sei que há fotografias que acontecem em certos locais e que podem entregar-me, e a eles depois, um estado da sua alma pela expectativa, pela importância do momento ou pelo desejo querer ir depressa.
Um desses momentos é quando a noiva entra no automóvel para ir para a cerimónia e o outro quando chega e está mesmo para sair e começar a percorrer a ala rodeada dos seus convidados com o seu desejado lá ao fundo, que espera impacientemente.
São, de facto, dois momentos que acontecem sempre e que o fotógrafo de casamento tenta, nem sempre o consegue porque é um momento muito fugaz, frágil e delicado e basta, ás vezes, uma hesitação, um ligeiro atraso na procura da composição e o tempo já não será certo para o levar, ao momento, como mais uma fotografia do casamento.
Mas quando o consigo, é a glória, é um festejo interno que só o fotógrafo de casamento dá por isso e que só as suas fotografias irão mostrar que aconteceu.
Vou chamar-lhe, porque não encontro outro nome, o momento interior. É rápido, intenso. De repente vejo, e fotografo sempre que vou a tempo, a noiva como se tudo tivesse desaparecido e ela fica apenas perante si como, talvez, só posso especular, se todo o seu futuro depender daquele momento para o qual se dirige.
É ao mesmo tempo uma certeza, porque está ali porque o quer, porque o desejou de tal forma que até leva consigo um fotógrafo de casamento para que o confirme, e uma incógnita como o é sempre o futuro para o qual caminhamos constantemente, mesmo que seja pela vereda que escolhemos. É claro que é só uma especulação do fotógrafo de casamento quando está na sua tarefa de escriba de um outro tipo de crónica que usa as fotografias em vez das palavras, que prefere.
Mas uma coisa sei, desejo sempre que as noivas que acompanho naqueles momentos me ofereçam um desses porque sei que se transformam sempre em fotografias intensas.
Pelo menos como as vejo.
