OS MESTRES pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO

Retratar alguém é um desafio e uma espécie de descoberta do outro, do fotografado, por parte do fotógrafo de casamento. Nos meus tempos de, apenas, interessado em ver fotografias comprava uma revista francesa, a Photo, que me começou a indicar um caminho que, na altura, ainda nem fazia a ideia que viria a existir. Comecei a ter contacto com a fotografia por si, o que era ou como se fazia. Não havia da minha parte nenhum interesse para fazer parte dela. No entanto lembro-me de me impressionar muitos com os retratos de um senhor chamado Yousuf Karsh. Eram retratos poderosos a preto e branco, revelando contrastes que modelavam os rostos de uma maneira que não deixava ninguém indiferente. Alguns anos mais tarde, li mais sobre este mestre, como trabalhava, qual a relação que tinha com os fotografados, que materiais usava e, nessa altura, já alguma coisa se desenhava no que seria o meu futuro e a minha relação com o retrato.
Quando comecei a fotografar para com ela ganhar a minha vida, ainda muito longe do fotógrafo de casamento que viria, não passava, ainda, pelo retrato, pelo menos de pessoas. Começou uma altura em que a fotografia tomou conta e eu nem me preocupava a definir o seu rumo. Dava satisfação, dava o ganha pão e alguma qualidade de vida e para quê lembrar-me das fotos de Yousuf Karsh. Mas os tempos mudam e com eles muda também a vida. Nunca pensei em tornar-me propriamente um retratista fotográfico mas o que é certo é que, a pouco e pouco, o interesse foi crescendo, foi entrado calmamente no meu trabalho profissional e a partir de certa altura começou a ser interesse sério e lá fui, como se deve fazer, rever os grandes mestres, já clássicos, especialmente dois além do já citado: Helmut Newton e Richard Avedon.
Não que os quisesse imitar, porque isso seria um desrespeito pela admiração que lhes tinha. Mas, é verdade, deles partiu muito do meu interesse pelo retrato que, reconheço hoje, foi o meu maior interesse pela fotografia, mesmo antes de saber disso. Quando me encontrei com o fotógrafo de casamento que me tornei, foi por causa do retrato que eu sabia que lá podia fazer e que se impôs sem que eu tivesse alguma palavra a dizer sobre o assunto. Saber que a determinada hora do dia podia partir com o casal que tinha acabado de se casar, levá-los a abandonar os seus convidados por algum tempo e tentar lê-los pelos olhos de uma câmara fotográfica que são as suas lentes e, com isso, dar uma nova leitura deles para escrever como fotografia numa folha de papel, nada me podia fazer mais feliz, como se estivesse a homenagear esses mestres que nunca souberam da minha existência. Todas as vezes que parto nessa pequena viagem com uma noiva e um noivo, são eles que o fotógrafo de casamento tenta honrar. Pelo menos, sabe-me bem pensar que sim.





