COMO SE DESCOBRE pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO

Se me perguntarem o que consiste o meu trabalho, poderei responder de muitas maneiras diferentes. Fotografo casamentos, às vezes batizados e um ou outro evento sem nada a ver com os outros dois. Poderei dizer que vou a casa das pessoas, normalmente àquelas que pertencem aos pais do noivo e da noiva a quem vou contar a história do dia do casamento deles, dali torno-me corredor de automóveis até à porta de uma Igreja ou entrada de uma Quinta, onde a cerimónia de casamento vai ter lugar, guardo dentro de máquinas fotográficas tudo aquilo que elas são capazes de apanhar e, depois, já em casa, acarinho cada uma delas, as fotografias que resultaram do dia de aventuras, escolho-as e faça-as combinar umas com as outras para contar uma história, em livro a guardar para sempre.
Também corro muito, subo escadas de quatro em quatro degraus, faço centenas de agachamentos por dia, subo muros e cadeiras, fico muito quieto nos cantos das salas, como aquelas estátuas humanas que vemos nas ruas de certas cidades, até que me aparece a fotografia que eu sabia que por ali andava, carrego vários quilos de equipamento fotográfico, por vezes a grandes distâncias porque os convidados arrebanharam todos os lugares de estacionamento disponíveis junto do sítio da cerimónia, para os seus lindos automóveis, e não tiveram a amabilidade de me deixar um lugar, faço-me de invisível para que não fiquem a fingir nas fotografias que lhes faço, aos noivos e aos seus convidados, de modo a não fazerem figura de armados em artistas ou modelos com falta de jeito e, também, me afasto um pouco para limpar a mente e voltar rarefeito para nova leva, até ao fim da festa. Por isso, também poderia dizer que sou atleta.
Mas, na realidade, sinto que sou uma coisa completamente diferente, para qual as outras duas são de extrema importância. Quando vejo as fotografias que vou tirando e as acarinho dentro do meu computador, para as derramar sobre papel na construção de um livro, que deve ser o seu lugar natural, dou por mim a pensar que são resultado de uma coisa muito feia e que não devemos fazer nunca. Costuma dizer-se sobre isso que é falta de educação, mas que remédio tenho eu se, por um lado, me pagam para para isso e, por outro, sem isso não posso garantir entregar aquilo por que me pagam. Assim não tenho outro remédio senão exercer a verdadeira função que tenho. Espreitador. Espreito nas casas onde vou, espreito para as salas e quartos onde se passam as tarefas onde se fazem noivos e noivas, espreito para dentro dos carros que os levam de um lado para o outro, espreito dentro das igrejas, por entre vasos de flores e castiçais, por entre pessoas para chegar a outras pessoas e por aí fora até que, finalmente, já em festa que foi e depois de ter espreitado muito, sem pedir desculpa a ninguém, vou para casa com a minha função de espreitador cumprida. É esse o meu trabalho.





