EU PENSAVA pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO
Fotografias do noivo e da noiva nos jardins da Quinta dos Alfinetes em Sintra, na festa do casamento
Parece que é a fingir
É a fingir, mas… É claro que a sessão de fotografias que faço com os noivos nos fins de tarde, já quando todos aquietaram os estômagos e começam ficar com tremores nos pés a antever o começo do turno do Dj, vai ser um fingimento.
Nós vamos combinar em alguns locais que o fotógrafo de casamento já se encarregou de marcar no terreno, num desaparecimento por boa causa, para uma série de encenações que ele acha que os vão fazer ficar bonitos e, com isso, guardar um registo de como estavam no dia do casamento deles.
É da praxe, o fotógrafo de casamento não consegue passar sem isso e o noivo com a noiva fingem que são modelos para artigo de revista de moda ou da especialidade, daquelas com muitas sugestões para casamentos, inclusive vestidos e fatos e maquilhagens e penteados e…sabem quais.
O fotógrafo que parece que manda
Nada como um bom parecer que é, num dia que é, de facto. O senhor fotógrafo, como respeitosamente é chamado quando o chamam para alguma coisa que queiram dele, vai todo convicto que é ele que vai ditar as regras, pelo menos ali, já que durante o resto do tempo não faz mais do que seguir o que lhe vão dando e ninguém lhe liga, e com isso alimenta um pouco o seu ego vaidoso e fica a pensar que, finalmente, ele também manda alguma coisa.
Assim, parte com o casal e ali quero-vos assim, ali vão encostar-se um ao outro daquela maneira, isso, isso lindo sorriso, olhem lá para o fundo agora, maravilha, dêem as mãos e finjam, lá está, que andam a passear pelo jardim que é bem bonito, não lhes liguem, não lhes liguem, vocês agora são só meus e não vos divido com ninguém, senhores convidados, agora vão dançar um bocadinho que eles já vão.
Enfim aquelas directivas, muito importantes que enchem o fotógrafo de casamento de orgulho e lhe dão a ilusão que percebe muito do assunto. O casal finge, lá está outra vez, que sim, que faz tudo o que o senhor fotógrafo nos mandar e nada podia deixá-lo mais feliz.
Para mostrar que é capaz de improvisar ainda descobre mais dois ou três locais no momento, enquanto caminham para o novo cenário e já está, podem ir ter com os vossos convidados que estão à vossa espera para continuar a festa.
Afinal, o noivo e a noiva não estavam a brincar, era a sério
Pois, tudo parecia que era, mas quando o fotógrafo de casamento começa a escolher as fotografias da grande sessão começa a perceber que foi enganado. Que o fingir foi, afinal, um grande fingimento. Nem deu conta que eles estavam, de facto, a divertir-se um com o outro, que todas aquelas directivas apenas eram seguidas em parte e que tudo aquilo era a sério.
Quando olhavam um para o outro estavam mesmo a olhar um para outro, quando um estava naquele sítio para o grande plano com a lente para isso, que o fotógrafo tinha imaginado, estavam era a fazê-lo para o outro, porque ninguém consegue fingir daquela maneira, quando lhes foi pedido para se juntarem juntinhos na ponta do banco para aquele efeito de profundidade, estão ver qual, aqueles truques que os fotógrafos fazem, não o fizeram para a câmara.
Sem o dizerem, e por serem gentis com o fotógrafo de casamento, lá foram fazendo o que sempre fizeram durante o dia e a partir dali. Bem, afinal, fui eu que lhes disse logo no início para não me ligarem nenhuma, como se eu fosse invisível.
Foi o que fizeram e, bem vistas as coisas, ainda bem.