ANTES DE COMEÇAR pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO
Quando o fotógrafo de casamentos vê estas fotografias da sessão de namoro da Sofia e do Ricardo dá por si a pensar numa coisa que nessa sessão me lembro bem de ter sido intensa. Fotografar é saber antecipar a fotografia em frente do olho e tê-la já fotografia antes de feita e isso não é difícil para mim.
Não só não me é difícil, como é aquele momento, muito rápido, que se me aparece como guloso que leva à boca aquela iguaria que o faz entrar numa outra dimensão, de sabores prazenteiros e, quase, divinos. Assim que vejo no visor das minhas máquinas a fotografia já pronta, a ser tornada ela própria, é como se um deus do prazer me oferecesse, mesmo sem merecimento, essa prenda que agradeço, uma a uma.
Se sei que fotógrafo é aquele que copia com luz e transforma noutra luz sobre papel, também o é aquele que tem que descobrir, à velocidade da luz, a fotografia que foi e já tinha sido, pelo menos, na sua imaginação. Quando as duas se adequam e sincronizam, conseguiu.
No entanto não é desse prazer que queria escrever hoje. Como o cosmos tem uma grande noção de equilíbrio, normalmente, o momento do prazer é fruto de uma outra energia não obrigatoriamente prazenteira.
Faz-me lembrar um rapazinho que vi há muitos anos num fim de tarde, enquanto descansava depois de um dia trabalho no jardim do Parque Eduardo VII. Com o seu carrinho de rolamentos feito em madeira ele subia toda a rampa até ao topo e, numa fracção muito pequena relativamente à subida a puxar o carrinho, escorregava parque abaixo, de certeza, numa felicidade que qualquer um de nós invejaria.
Assim, quando o fotógrafo de casamento chega ao local combinado para a sessão, os meus olhos entram num desatino à procura dos onde e dos como. Onde vou ter aqueles fundos que me vão dar o vestir à minhas fotografias, como gosto. Como é que vou, ali, encaixar o meu casal e saber transformar-los em personagens dignos de artistas como os que vemos nas revistas e, até, no cinema.
Ora esses momentos antes de me situar, e o fotógrafo de casamento decidir o que vai fazer, são de uma espécie de sofrimento, entro como que num pânico descontrolado e aqui não, ali não, ali também não dá e hoje não me vou safar isto não tem maneira de fazer nada de jeito, etc, etc, etc…
Mas esses meus pânicos são pânicos bons. Levam-me a funcionar, na observação, a uma velocidade tal que nem o noivo nem a noiva se apercebem que alguma vez o fotógrafo de casamento duvidou que poderia fotografá-los ali. Quase de imediato me transformo no cantor aflito antes de entrar no palco e, assim que o faz, tem o desempenho da sua vida.
É isso que eu quero, em cada sessão que esteja em vias de começar se transforme na melhor que eu soube fazer até ali. E isso é desejo impossível de concretizar se não tiver como precedente um momento de descrença que me irá dar a noção do dever e responsabilidade perante o que faço, pelo que tenho grande gosto mas, principalmente, por respeito aos meus clientes.
E tem corrido bem.