AS GALÁXIAS pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO

Há qualquer coisa de mágico naqueles momentos. Não estou nem a fantasiar nem a exagerar num romantismo novelesco, onde se dá muita importância a estas coisas dos olhares nos olhos de outro, ou outra, que fazem o mundo, qual mundo, o universo desaparecer e eles, os olhos, se comportam como aquelas galáxias, como dizem os entendidos, que andam à roda uma da outra e nunca mais se largam até que se misturam e, pelas fotografias que vejo do telescópio que anda lá pelo espaço a fotografá-las, o fazem com tal beleza que se parecem com um casal de noivos na primeira dança do dia do seu casamento, na abertura da pista para que, a seguir, todos os tentem imitar, sem o conseguirem. É exactamente por isso que me esforço a conseguir mostrar, quando estou fotógrafo de um casamento e chega aquele momento que, com mais ou menos jeito, a tal magia acaba por acontecer sempre.
Agora o que não sabem é que que o fotógrafo de casamento precisa, para que essa tal magia venha a ser provada para estudos futuros em provas fotográficas, de se sincronizar com eles e nem sempre isso é coisa fácil. Há ali uma vibração que deverá ser captada, interpretada como se também ele precisasse de par para acompanhar todos os movimentos, mudanças de direcção ordenadas por ritmo da música escolhida, nuances evolutivas daqueles dois corpos apaixonados, que a melodia embala e transporta sabemos lá para onde. Apenas conseguimos ver se têm jeito para a coisa que é coisa que não tem importância nenhuma, e o fotógrafo, aos poucos, mas o mais rápido que puder, apanha o tom e, como músico de jazz inspirado na improvisação nessa parte do espectáculo, começa a dar voz às suas câmaras, o seu instrumento para aquele momento, e elas, sem falhas nem no tempo nem no tom, vão tentando desvendar os tais olhares nos olhos, numa linguagem que só os dançarinos entendem.
Podem não acreditar, a não ser que já tenham, num casamento, visto um vulto de cara tapada com máquina e lente agarrada, numa espécie de dança alternativa que aqui e ali parece fora do ritmo, mas, há momentos em que o fotógrafo de casamentos se sente tão inclusivo, mesmo, embalado pela música e pelo movimento dos dançantes que, também ele, sente que o universo está só ali e que tudo desapareceu, até ao momento em que, ou por ordem da música que chegou ao fim, ou porque, afinal, o casal não está muito interessado em continuar com ela, a dança, por falta de dotes, também acontece, ele, o fotógrafo do casamento, volta à sala e começa, de imediato, a ser atropelado por convidados sedentos, também eles, de, pela música, saírem do universo ou, quem sabe, encontrarem a sua galáxia parceira. Sem tempo para aterrar, as fotografias não param de acontecer e ele apenas mudou de universo, agora numa galáxia repleta de estrelas que não param de se mostrar umas à outras, de despender energia e com o único desejo de serem muito felizes. Isso, garanto-vos, acontece.




