PARTILHAR pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO

Partilha. Se me perguntarem qual é, para mim quando estou fotógrafo de casamento, o sentimento que mais noto naquelas manhãs de noivas, e noivos, eufóricos porque se vai passar uma coisa muito importante com eles, dali a umas horas, e que eu absorvo com mais intensidade do que o doce mais doce da minha gulodice, não teria uma resposta imediata e precisaria de algum tempo para poder designá-lo. Tenho esse problema com as músicas que gosto, com o lugar da minha eleição ou com a hora do dia que mais me dá. Afectividade encontro-a aos molhos. Para começar, nos noivos um com o outro mesmo antes de se encontrarem porque dava tudo para saber como ela está a esta hora. Será que já começou a transformar-se na minha princesa? Olá, sr. fotógrafo, como normalmente sou conhecido por quem não me conhece lá no lugar, como é que ele estava? nervoso? estava bonito depois de pronto? vamos ver se não se esquece das alianças que estão com ele.
Encontro-o a cada abrir de portas, a cada virar de sala em cada tia ou tio, primos, primas e em quem andou com eles à escola, sabedores de alguns segredos lá para a noite desvendados para surpresa de muitos, na vizinha do esquerdo que a conhece desde bebé, era tão linda que encantava, e até na prateleira dos livros e dos discos há lá afectos que valem para uma vida. Carinho, já mais Íntimo e só na ponta dos dedos de alguns, mas com uma sinceridade tal que assim que detectados pelo fotógrafo de casamento, não escapam a lugar obrigatório no já farto espólio, dentro das suas máquinas fotográficas. Também encontro inveja, mas da boa, daquela amiga que não há meio de fazer viagem pela ala de uma cerimónia de casamento ai amiga estou tão feliz por ti eu sei querida qualquer dia será a tua vez, ou algum ressentimento naquele amigo desde sempre e que acha que ela se vai embora e já não volta.
O maior de todos e de feitios diferentes conforme de onde vem e para onde vai que, sendo o rei dos sentimentos, não convém falar muito dele para não o tornar ligeiro. Falo do amor, claro. Mas depois do muito tempo de experiência do fotógrafo de casamento a colhê-los, aos sentimentos, como flores de jardim prontas a decorar e a tornar mais belo todo aquele lugar de encontros, como é o de uma noiva em vias de ficar mesmo igual com uma, parece-me, e duvido que esteja errado, que o sentimento da partilha é o que mais se adequa ali. Partilham-se os outros sentimentos acima, partilham-se os truques para resolver o problema dos botões do vestido que estão muito grandes para as casas onde vão viver até à hora de desabotoar, casamento percebem de certeza, partilha-se o leva tu para que não se amarrote dentro do carro, partilha-se o espaço da viatura porque era para ir com alguém que já partiu. A todas estas partilhas o fotógrafo de casamento chama assunto, o que os fotógrafos chamam ao que os chama para fotografar, e, sim, nessas alturas e nesses lugares não lhe faltam partilhas para, mais tarde, ser ele a partilhar com todos…










