QUE SEJA ETERNO pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO
Não sei quem treme mais no momento de colocar as alianças no dedo numa cerimónia de casamento. Se o noivo e a noiva, se o fotógrafo de casamento. Não é a primeira vez que escrevo sobre o principal cerimonial do dia do casamento. Se pensarmos numa linha quebrada, composta por duas rectas, tenha ela o ângulo que tiver, este momento é o encontro das duas. Se lhe dermos um sentido, temos o antes que foi feito para este momento, toda a preparação meticulosa que incluiu pentes, lacas, rolos para cabelo, cremes de barbear, tiaras e flores, sapatos e fatos, vestidos e espelhos, o mágico toque com a ponta dos dedos na franja, o custoso acerto do nó da gravata com o comprimento da mesma, o vestido que não quer entrar no automóvel, o véu que quer fugir apaixonado pelo vento, os beijos fingidos, para não estragar a maquilhagem, dos tios, das tias, primos e primas, amigos e amigas que chegaram em cima da hora, os….
O vértice que liga as linhas e que faz uma delas mudar de direcção, não podia ser outro senão aquele momento em que uma aliança, já impaciente de tanto esperar, se acomoda num dedo que a partir de agora prega aos quatro ventos estão a ver, já se casaram e vão viver felizes para sempre. A partir dali a linha que começa quer-se infinita e cheia de graças, como desejarão todos os que estão ao alcance do fotógrafo de casamento, para demonstrar que assim é em provas válidas em todo o lado como são as fotografias. Acabou o nervoso, o tremer de dedos ansiosos, os do fotógrafo de casamento também, com medo de falharem o momento certo para tal efemeridade, e todos já sob o sol, que bendita o que se passou sob a protecção dos seus raios, irão reafirmar esses desejos enquanto os noivos, que o já não são, passam por entre braços que abraçam, se encostam a lábios que beijam e escutam vozes que lhes desejam que seja para sempre.
Mas como, para sempre é muito longe e o fotógrafo de casamento lá não estará, vamos limitar a eternidade às próximas horas em cima da segunda linha, que partiu no momento em que anéis, benditos por sacerdote autorizado por mais alta autoridade, cumpriram o destino e toda a gente já deu como feito e autenticado, vamos para outro poiso onde tarefas mais mundanas nos esperam mas não de somenos importância. Sabe o fotógrafo de casamento que muita fotografia por lá andará e que ele tudo fará para as não deixar ir para outro lado e para nunca mais serem vistas. Isso nunca poderá acontecer, sem antes garantir que tudo ficará registado, para que saibam que tal cronista soube deixar para testemunho, a partir do ponto da segunda parte da linha quebrada, que se quiz muito longa e sem nunca perder a direcção para que estava destinada. É esse o seu desejo, sempre.
