POR FAVOR, NÃO PAREM pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTOS

Do que é que estará a falar toda esta gente? Não sei nem me interessa. Se calhar da vida deles, do que têm andado a fazer desde a última vez que se viram, de alguns projectos que não deram e outros que estão na calha, olha quando eu me casei…vê lá tu que já nem me lembrava disso…sabes aquela do….eh, pá, não acredito…pois, se calhar era assim….são pedaços que o fotógrafo de casamento vai apanhando mas, como podem entender, porque o serviço dele é outro, nunca sabe, nem quer saber, do contexto, do princípio ou qual foi o fim. Isso é assunto de convidados de casamento que, quando se juntam todos a contar os seus contos, ao fotógrafo de casamento parece mais a cacofonia daquelas orquestras em período de aquecimento para o concerto, que nada tem a ver com o que fazem já todos afinados na sinfonia que apresentam. Com eles, se não tivermos o dom de aproximação auditiva, é mais como antes do concerto, parece que estão todos a aquecer as cordas vocais para algum discurso, mais à frente.
Mas, não pensem que isso incomoda o fotógrafo de casamento. Nem pensar, falem, falem muito, contem muitas histórias, exageram na importância, inventem umas coisas pelo meio para ficarem mais compridas, já que me falas disso lembrei-me…isso conta também tu. Enfim, naqueles momentos, normalmente antes da refeição, enquanto lhes são oferecidos os canapés e uns licores para abrir o apetite, ou retardar como eu prefiro, tenho todo um manancial de fotografias que se me oferecem por onde quer que olhe, que nem tenho tempo para me aborrecer à espera de vislumbrar alguma e persegui-la até que a tenha guardadinha na minha máquina fotográfica. Depois, ver rostos, e sabem que rostos, para qualquer fotógrafo que tenha por missão guardá-los, é uma atracção que não se pode desaproveitar. Eu nem dou pelo tempo e, mesmo que tenha sido esticado como desejei, me pareceu sempre, no fim, muito encolhido tal seria, ainda, a colheita que me estava a ser oferecida.
Já me aconteceu algumas vezes fazer birra, comportar-me como criança mimada a quem tiram o seu brinquedo favorito porque está na hora de fazer outra coisa. É claro que ninguém dá por isso mas, cá dentro, não está certo, agora que ainda via tantas e tantas fotografias a clamarem que queriam vir com o fotógrafo de casamento, que quase gritavam à minhas lentes favoritas, todas elas, olha eu, olha eu aqui que resolvem acabar com isto e levar toda a gente para outro lugar que, sei lá, se calhar não me vai dar este manancial. Mas é birra que passa depressa, porque gente dada ao conto e à piada, não é por mudar de sítio que vai deixar de o fazer.
Por isso, o fotógrafo de casamento sabe que vai, outra vez, apanhar com os ouvidos aqueles pedacinhos delas, dos quais não quer saber nada porque sabe que eles, os tais pedacinhos de conversa, trazem as fotografias que tanto deseja. Só muda a luz, que também conta, só muda como se irão reunir lá dentro o que é bom porque podem voltar a contá-las, agora, a outros e assim, sem o saberem, fazem um fotógrafo de casamento feliz, farto, de fartura, e completamente satisfeito quando for hora de partir.





