LÁ LONGE pelo FOTÓGRAFO DE CASAMENTO NO ALENTEJO
Há sempre qualquer de especial quando vou Alentejo adentro fotografar um casamento.
Sei que o Alentejo está na moda, toda a gente gosta do Alentejo mas eu sou daquelas pessoas que raramente lá vai e se me não fosse pedido, talvez não fosse dessa vez que me dava a aventuras por estradas rodeadas de chaparros e sobreiros e olhar lá para longe e o longe ser mesmo muito longe tal como a piada do alentejano a quem perguntam onde fica tal localidade e ele responde sempre, apontando, que é já ali.
O Raul e a Inês pediram-me que fosse colectar todos os pedacinhos que pudesse do casamento deles e lá fui eu em estradas, sobre vales e colinas tão pequeninas, que me parece que quem as fez arranjou maneira de, ao contrário do que os construtores de estradas fazem, subir e descer as mais altas e arranjar curvas e contracurvas sem necessidade para que não digam que o Alentejo é já ali e sempre a direito, até ao fim.
Mas não fiquem com a ideia de que o fotógrafo de casamento não gosta do Alentejo. Seria negar parte de mim e não o faço.
Apenas, é verdade, já me desabituei dele dado o tempo que já lá não estou e, talvez por, como aqueles marinheiros que estão sempre enjoados no mar, olhar lá para longe e o longe ser sempre muito longe me fez preferir, quando vou, andar por montanhas grandes e vales com lá muito em baixo para me fazer sentir que estou sempre a chegar a qualquer coisa e ser, de facto, sempre já ali seja o que for.
Ou então, mais uma vez, como acontece amiúde ao fotógrafo de casamento, são meras fantasias para arranjar palavras para mais um artigo.
Dizia, no começo, que quando entro no Alentejo, e o cheiro da esteva ou da seara me chega ao nariz, qualquer coisa de especial muda em mim. É verdade.
O fotógrafo de casamento é um alentejano, daqueles que há muito tempo lá não está e como não gosta de pensar em leite derramado, prefere só sentir isso quando precisa de lá ir. E ir para o dia do casamento da Sofia e do Nuno não podia dar melhor pretexto.
Se essa ligação se me torna manifesta com os cheiros já descritos, nem vos passa pela cabeça quando começo a ouvir aquele falar quase cantado em estilo conforme a terra de onde vem, ou está, me vejo debaixo do sol caldo a que só alentejanos acham normal, me chegam aos ouvidos as cigarras ao desafio empoleiradas nas azinheiras e deparo com a cal das casas alvas, como só por aqui se podem encontrar.
É por isso que sei que, assim que passo aquele rio que me diz que para ali é além Tejo, ir fotografar um casamento lá, longe mas que é mesmo já ali, vai ser uma coisa especial, para reencontrar uma parte forte de mim, porque, de facto, há coisas que nunca esquecem.