A LUZ DA VIDA pelo FOTÓGRAFO DE BATIZADO
O fascínio pela luz. Parece ser o que há de comum entre um bebé a ser batizado e um fotógrafo de…batizados. Quando um fotógrafo pega na sua máquina fotográfica, seja para trabalhar ou simplesmente para o prazer de roubar ao éter algumas cópias que ache do seu interesse por conteúdo, estética ou mera experimentação, há uma coisa que sem a qual nenhuma das suas intenções são possíveis.
A luz.
É ela que empresta os fotões necessários para que, hoje, o sensor da sua câmara seja estimulado a transformar esses fios de luz em zeros e uns que se hão-de retransformar, novamente, em luz e, por sua vez, estimular os nossos olhos e chamar-lhe-emos fotografia. Sem ela, a luz, o fotógrafo nunca poderá atingir nenhum dos seus objectivos porque é ela que é imperatriz ao modelar formas, criar claros e escuros, contrastes e, conforme a sensibilidade do fotógrafo, enquadrar e compor esses feitios de modo a transformá-los numa superfície plana bidimensional a que chamará de fotografia.
Assim o fotógrafo é alguém que anda sempre em estado de euforia a perseguir os estados de alma da luz que com os seus fiozinhos, ora mais juntos, ora mais intensos, ora mais suaves, ora mais duros se entretem a oferecer ao dito toda uma gradação de cores, tons e texturas que o deixam, por vezes, extasiado e não haja absolutamente mais nada que o possa interessar.
O problema dele, do fotógrafo mesmo de batizado, é que nem sempre, talvez a brincar com ele ou a desafiar as suas qualidades, a forma como ela cai sobre o que ilumina servem ao interesse e finalidade do mesmo. Nem tudo pode ser fácil. Aí, tal como qualquer artífice, o fotógrafo terá que aprender a ultrapassar e resolver as coisas para que a luz, o enquadramento, o ponto de vista e a composição se entendam e se faça fotografia.
Ora o bebé também tem essa atracção pela luz. As vezes que dou por mim a esperar pelo momento cerimonial, no batismo, da vela acendida por padrinhos e iluminar o conjunto que irá jurar a protecção daquela criança testemunhado por padre encarregado.
Por mais desatenta que seja aquela criança, que ainda não percebe muito bem o que ali se está a passar, assim que aquela vela de luz santa se aproxima dela, toda a sua atenção ali se concentra pelo olhar e pelas mãos como se uma adoração fosse necessária e já soubesse que ela, a luz, é a razão principal da sua existência e que precisa de ser adorada.
É isto que um bebé em estado de batismo tem em comum com o fotógrafo que ali está perto dele, como cronista do seu primeiro acto simbólico de muitos outros que a vida lhe entregará. O fascínio pela luz que o fotógrafo de batismo aproveita para seu inolvidável prazer e para testemunho de que foi verdade.
Pelo menos, gosto de pensar que assim é.