Partir pela manhã, e ás vezes bem cedo, com o meu equipamento fotográfico preparado para a maratona que me espera, uma coisa sei que tenho que levar bem preparada: a minha atenção pelo que me irá rodear durante todo o dia. Sei que isso poderá fazer a grande diferença entre transformar a minha presença como fotógrafo de casamento do dia e um fotografo ocasional mesmo que tenha as mesmas qualidades e conhecimento fotográfico que eu.
Direi que durante o tempo operacional da minha presença existem, pela experiência que já tenho, uma série de acontecimentos que me são previsíveis e que a sua descrição nos espaços de acontecer não têm grande variação pelo que apenas terei de me preocupar com a forma de os transformar em fotografias, se possível sem repetição na forma mas respeitando a verdade do conteúdo.
Ora dentro destes caos de acontecer previsível surge aquela momentânea composição onde, como oferta a fotógrafo atento, pessoas, espaço, luz e cenários se entregam de forma perfeita para fotografia que se não aproveitada se desfaz de seguida em nova confusão.
O grande problema é que, enquanto fotógrafo, viajo entre a obrigação de captar o que fui tornando previsível e aquilo que se me oferece apenas como desafio de atenção, correndo o risco de perder a capacidade de saber ver os outros aconteceres que são o grande tempero dentro do corpo primordial do dia que não difere muito de casamento para casamento.
Pode o fotógrafo encarregado pela memória do casamento correr o risco de, com o tempo, ir perdendo a capacidade de ver pelo canto do olho esses apontamentos de tempero que darão, depois de pronto, o fruto do seu trabalho como iguaria saída de cozinheiro sabedor do uso de ingredientes e temperos.
Por isso ao sair com o saco das minhas máquinas na mão sei que é para esses momentos que terei que ter toda a minha atenção redobrada porque, ás vezes, são exactamente essas que demonstram a importância das fotografias de casamento depois deste se ter consumado e passar só a fazer parte da memória e por cada novo dia se encontrar cada vez mais distante e, com o tempo, ténue. São as fotografias que o trazem de volta com o vigor do reviver se o o fotógrafo teve a habilidade, o conhecimento e a atenção para tal.
Gostaria de me convencer que sou capaz disso. Pelo menos sei que parto com essa missão e que por vezes a vejo como conseguida. Enquanto assim fôr propor-me-ei como fotógrafo de casamento para quem me achar de valor para tal. E com muita alegria.
Texto e Fotos: Fernando Colaço